top of page

O Herói Noturno

Hoje meu heroísmo me acordou enquanto o “outro” dormia, eu estava tremendo, como se uma dose repentina de adrenalina me fosse injetada, como se voltasse aos tempos de vigilante, onde a escuridão me detinha e onde todos os males se mostravam.

O quarto estava escuro, mas eu contemplava tudo, via tudo, decorrência das noites em claro nos becos e nas ruas, e sobre os telhados das casa sedentas de esperança e liberdade, duas qualidades que não levei a ninguém desta cidade, apesar de lutar por elas. As pessoas me chamavam de perigoso, deixei que me chamassem assim, para passar uma autoridade intimidadora enquanto o “outro” se fechava dentro de mim. Desci para o porão que não era um porão, acendi as luzes, e as cores do chão me lembraram o Incendiário, não sei porque mas fui levado até o verão de 2004, a rua São Miguel soltava tons laranja e fumaças pelo ar, em contraste com o negro céu noturno, parecia que uma cratera de lava se abrira por entre os prédios. O traje que eu estava usando era a prova de fogo, mas não era do fogo que eu me prevenia, entrei por uma janela do terceiro andar, as chama me atacaram, mas inutilmente, eu estava alheio a tudo que acontecia lá fora; o prédio era velho, o que só fez o fogo aumentar. Tive que sair atrás de cada grito que despontava em cada canto do edifício, em cada quarto, enquanto o ar me fugia e o oxigênio escapava do cilindro agora quente e pesado sobre as costas, mas consegui salvar o civis, nada que eu já não tivesse feito antes.

Estava examinado os outros quartos, o crepitar do fogo era como algo se alimentando e enquanto eu pude ouvir os gritos, parecia que as pessoas é que estavam sendo devoradas. Foi quando o mundo girou, senti o peso de outro corpo sobre o meu, me jogando até as escadas de onde eu vinha, caímos até o andar de baixo, ele se ergueu sobre mim em meio as chamas. Não tinha tempo para ele, restava lugares do local que ainda não tinha chegado. Era um homem alto o sujeito, uns trinta anos, o rosto estava coberto por uma máscara de fumaça, talvez ele tenha queimaduras, segundo alguns ladrões que abordei, botara fogo na própria casa sem motivo algum, com seus dois irmão nela, muito perto das casa ele ficou, admirando, ou o que seja que se passa na cabeça dele.

Estava exausto por causa da fuligem, ele nem se importava, eu precisava chegar até o outro canto e ver se tinha sobrado mais alguém mas me faltava ar. Fui desmaiando aos pouco enquanto o Incendiário estava imóvel como uma animal venenoso esperando sua presa sentir o veneno, para depois se alimentar dela; naquele dia um casal morreu carbonizado. Acordei num beco bem perto do incêndio, arrasado, me arrastando entre o lixo um tanto desnorteado, sem sinal do Incendiário. Eu sempre me preocupei primeiro com as pessoas, depois procurava os suspeitos, mas ele esperou até eu estar cansado, deixou o fogo me consumir primeiro e fez com que meu heroísmo não representam nada naquela noite. Depois disso surgiram outros como eu para arrumar os meu erros, que se tornaram constantes em operações menores, quando eles ganharam espaço eu sumi por um tempo, deixei o “outro” me esconder durante o dia.

Agora aquele mesmo equipamento tático está num armário, imóvel, ele me observa pelo reflexo na viseira, as notícias ficaram mais serias como naquela noite em 2004, e a roupa me chama, sabe, com também sei, da eminência do caos, sabe que aquilo que o “outro” chama de medo na verdade é empolgação, por que é preciso que eu vá, porque o mostro em chamas se ergue sobre os telhados e um homem tem que ir contra ele. É quase insuportável resistir voltar aos tempos de heroísmo, mas a verdade é que é isso que eu sou, um vigilante, alguém que se importa muito com as pessoas, mesmo com todas as controvérsias que tenho com eles. O que me chamam durante o dia é uma casca, à noite o meu nome fica a sombra, o meu verdadeiro nome, onde os demônios o temem, onde o mal é maior.


Conheça mais sobre o autor: Matheus Fernandes



Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Nenhum tag.
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page