Flores Caídas
Minha primavera é de flores passageiras que quase nunca florescem e tampouco enfeitam meu pequeno jardim. Sem profundas raízes, morrem a cada pôr-do-sol. Em um mundo onde quase nada mais se colhe e a vida é refletida em míseros detalhes insignificantes para aqueles que nunca se arriscam. A vida nunca nos dá respostas, ela é repleta de insinuações e segredos profundos, em sua superfície encontramos apenas o vazio e a insatisfação descrente de todo e qualquer tipo de necessidade. E eu quero mergulhar em cada mar desses sete desejos insatisfeitos e insaciados, quero me impregnar de novas descobertas, despertar em um momento e desfrutar de uma certa lucidez que traz consigo uma mescla e genuína mecha de sabedoria. A certeza é algo incerto, em meu jardim, a doença das minhas flores me atinge como a realidade atinge uma criança que vive em um sonho de contos de fadas. A realidade é sufocante, mundos paralelos com rotas de fugas deveriam existir. O mundo é revestido de esconderijos que encadeiam e refugiam certos fatos, que obscuros, tendem a inflamar nossas feridas. Tantas primaveras miúdas que não acalentem a alma, não florescem nesse jardim. Uma existência sem raízes não conforma a solidão de minhas muitas ausências. Um destino só, eu reservo, sem muito pensar, coisas em vão, vou no descompasso do vento, em direção à um lugar ameno, deixando assim, flores caídas no chão.