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Sonhos e Ilusões

Eu a observava como se o mundo a minha volta estivesse paralisado e existisse apenas por ela. Eu queria poder lhe falar, mas as minhas palavras eram falhas naquele instante e indevidamente inadequadas à aquela imagem. Ali, sentada na areia, com o mar à frente, raivoso e inquieto, fazia o vento chicotear seus cabelos negros soltos à própria vontade, o sol se despedia como um último apelo ao dia lançando aquelas pequenas faíscas de luz, engolidas lentamente pelo mar.

Meus pés, enfim, moveram-se. Ao me aproximar, senti o coração formigar, tamanha a necessidade de poder olhar o seu rosto e admirar aquelas feições lindas, mas sempre tristes por algo nunca conhecido por mim.

Sentei-me ao seu lado. Ela não se moveu, nada disse, como sempre. Eu por ora não conseguia desviar o olhar de seu perfil, tão sofrida, parecia sua expressão sempre tão melancólica, a qual brigava para lhe roubar a beleza, mas não conseguia. O sofrimento lhe dava um ar de delicadeza tão extraordinário, que as vezes me perguntava de onde ela havia surgido, talvez de um mundo mágico, ou era apenas uma fantasia... Não. Ela existia, eu tinha uma quase certeza disso, bem pelo menos a mim sua existência era válida, muito mais clara do que o sol e mais compreensível do que uma canção.

De repente ela virou o rosto para mim como se buscasse algo que eu pudesse lhe dar.

- O que você vê em mim? - Ela perguntou de repente, a voz tão suave como a brisa, e percebi. Ela queria respostas.

- Como assim? - Eu precisava lhe entender por inteira.

- Eu pareço ser o que sou? - Seus olhos estavam rasos, e eu não sei se suportaria vê-la chorar.

- Você parece ser tudo, mas não sei dizer o quê. - Disso eu tinha certeza. Ela era um ser vasto, cheio de possibilidades e intrigas, totalmente indecifrável.

O vento cortou nosso espaço, furioso, ela voltou a mirar o horizonte, o olhar totalmente perdido e cheio de enigmas.

- Minha vida tem sido tão solitária - uma lágrima molhou seu rosto angelical.

O vento forte levou suas palavras que saíram num sussurro e me perguntei se realmente as tinhas ouvido. Droga, pensei. Tudo o que eu queria era poder me perder naquele olhar e desvendar cada mistério impregnado naquela pele alva. Eu precisava disso, pelo bem da minha própria sanidade. Calculando todos os meus movimentos, segurei-lhe o queixo e depositei naqueles lábios rosados um beijo suave, mas repletos de intenções.

Ao olhá-la busquei algum sentimento escondido por trás daqueles olhos negros como a noite, que agora nos cobria trazendo a sua obscuridade repleta de esconderijos.

- Eu me apaixonei por você - eu disse num fio de voz.

- Esse foi seu erro fatal! - Ela falou, seus olhos continuaram brilhando como estrelas em noite de verão.

Sim, esse foi um erro fatal. Ela me diria adeus, como tantas vezes fizera em meus sonhos. Em minha realidade ela sempre foi distante como a lua, e inalcançável como o horizonte. Eu queria levá-la em meus braços e tê-la para sempre ao meu alcance. Mas ao ver o medo em seus olhos, pedi a mim mesmo tempo. Amanhã, eu voltaria mais uma vez aquela margem, repletas de sonhos e ilusões. A encontraria novamente, sentiria mais uma vez o seu cheiro, me embebedaria de sua presença, e sofreria como sempre venho sofrendo.

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